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Autenticidade de vida, vivida na responsabilidade de uma liberdade assumida


A semana santa aproxima-se. Mais uma Quaresma passada, e tantas já vividas. Cada Quaresma é para nós um memorial da Aliança que Deus faz connosco. Memorial porquê? Porque a Aliança está feita, de uma vez por todas; porque Deus é  fiel e não se esquece do seu povo; porque o Homem é pecador e está sempre chamado a retomar a uma vida de fidelidade a esta Aliança.

A Quaresma é para isto. Um tempo que nos recorda que é sempre necessário olharmos para nós, revermos as nossas atitudes, e regressar à casa do Bom Pai, um Pai misericordioso.

A tentação, durante toda a nossa vida, será sempre a de vivermos como aquele filho mais novo. Vivia na casa do pai, tinha tudo, podia tudo, conseguiria tudo. A única exigência seria a da fidelidade aos pedidos do pai. Uma exigência que passava pela responsabilidade nas pequenas (grandes) coisas que pai lhe pedia.

Mas este filho não se contenta com isso. Olhando para fora da casa, contempla toda uma vida que não é a sua, não é para si, mas é a que lhe seduz. Uma vida a desfrutar; uma vida a gozar; uma vida sem responsabilidades, de total "liberdade" e independência; uma vida, acreditava ele, em que poderia ser totalmente Homem.

Esta felicidade querida por aquele filho, tem a mesma duração do dinheiro que possui. Termina o dinheiro, termina essa felicidade. O que tem agora? Uma vida de servidão, de escravidão, de sujeição à maior maldição que lhe pode recair. Não tem nada, não pode nada, nem sequer é mais dono de si mesmo. Cuida de porcos, e nem a comida dos porcos pode comer... "Como era boa aquela vida que eu tinha quando vivia com o meu pai".

Olhemos cada um de nós para a nossa vida. Tantas vezes, na tentativa de viver uma vida livre, vivemos uma vida rebelde, de total libertinagem. Confundimos aquilo que é a liberdade. Esta só é autêntica quando vivida num plano de escolhas, de opções, de renúncias.

Eis o tempo favorável para fazermos as nossas. Não estamos condenados a viver uma vida igual à de tantos. A nossa única condenação é a de sermos livres, e mesmo essa não é condenação mas graça, dom.

A cada dia, façamos as nossas opções. Assumamos cada momento da nossa vida. De manhã toca o despertador. Não estou condenado a levantar-me àquela hora para trabalhar ou ir para a escola. Fui abençoado com um novo dia que começa, no qual vou ser feliz ao proporcionar momentos de felicidade aos outros. Este é o espírito de um amor vivido em tudo: assumir em cada momento a felicidade que não posso perder e que, por isso, vou agarra-la.

Permita Deus que não vivamos uma vida medíocre, de mínimos. Autenticidade de vida, vivida na responsabilidade de uma liberdade assumida, é o que eu desejo para todos na renovação que Deus quer operar em nós nas celebrações pascais que se aproximam. E Deus, Pai bondoso e misericordioso, que sempre está à nossa espera, aguarda, neste preciso momento, que nos aproximemos d'Ele.

Assim seja.

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