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Na amizade, não existe preconceito. Sem amizade, todos pensam conhecer a verdade.

O preconceito. Quando falamos deste termo, facilmente a nossa cabeça se resvala a contemplar graves abusos na nossa sociedade, onde temas como racismo, educação, ambiente familiar e outros nos faz ter uma ideia antecipada e generalizada de determinado grupo. Mas o preconceito ultrapassa estas questões. Existe, também, nas relações que quotidianamente estabelecemos com uma pessoa.


Levantamo-nos de manhã, e contactamos com alguém que é pontual nos seus compromissos e com outra pessoa que diariamente chega atrasada aos mesmos. Daqui deriva a conclusão generalizada: “aquela pessoa é fiel aos compromissos e esta é uma desleixada”. Esse pode ser um juízo verdadeiro, mas não pensamos que a realidade pode ser outra. Por exemplo, a primeira pode viver num jogo intenso de construção de uma imagem falsa visível aos outros, e a segunda poderá estar sedenta se ser ajudada, ou simplesmente está condicionada por vários fatores: transporte, falta de descanso porque tem dois empregos, etc….

Outro exemplo. Ao longo do dia encontramo-nos com o nosso grupo de amigos. De entre eles sempre há quem queira pagar tudo. Outros, porém, nunca “abrem a carteira”. Daqui deriva a conclusão generalizada: “aquela pessoa é um amigo, um camarada, sempre pronto a pagar um  copo; este, pelo contrário, é um forreta que nunca paga nada”. Mais uma vez, não pensamos que a realidade poderá ser outra. Por exemplo, a primeira pessoa pode ser apenas um esbanjador que não tem critério nenhum na utilização do dinheiro e que, talvez, no essencial, até passe privações e não tenha dinheiro que chegue até ao final do mês; a segunda pessoa, talvez nunca abra a carteira porque não tem dinheiro, ou porque o pouco que tem deverá guardá-lo para as despesas importantes.

Muitos são os exemplos que poderíamos dar, talvez até de situações concretas em que podemos fazer figuras tristes. Mas tudo isto para dizer: temos uma grande facilidade de construir uma imagem de uma pessoa somente pelas atitudes que vemos ela ter. Ao mesmo tempo, cada um de nós já tem uma catalogação de tal ordem, onde inconscientemente fazemos atribuições de personalidade: esta pessoa faz isto, então é isto. Esta pessoa não faz isto, então é isto.

Cada vez mais acredito, e não arredo pé disto, porque tenho visto que é verdade, que o único ambiente onde se pode fazer um juízo justo e próximo da verdade, acerca de uma pessoa, é na amizade. Aqui, quando se trata de uma amizade autêntica, é possível conhecer não só as atitudes, mas as motivações. Só na amizade é que é possível encontrar um rosto transparente que se quer dar a conhecer. Não há outra forma.

Assim Deus me ajude, que eu consiga estabelecer verdadeiras amizades. Ao mesmo tempo desejo, para a minha vida, que sempre que não seja possível estabelecer esta amizade, que a minha opção passe pelo calar no que toca a fazer juízos sobre vidas alheias. Que bom seria se todos vivêssemos assim…

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